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DOS TEUS GIRASSOIS

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A gente nunca falou sobre Van Gogh, mas os girassóis sempre rodaram em torno das suas palavras, da sua maneira de ouvir música fazendo dela oração, do seu sorriso fácil, da sua piada pronta, do brilho da sua presença onde estivesse. E justo eu, que sempre gostei das margaridas, do bem-me-quer, do cheiro da sua versão camomila, do ritual de noite e dia, fui logo tatuar os seus girassóis. Talvez uma forma de continuar os nossos laços, de fazer do sol ciranda e flor no que [me] é derme. Uma desculpa nada esfarrapada para te contar para os outros, já que cada inflorescência que se espalha entre minhas veias e artérias são capítulos seus. 

DA INCAPACIDADE DE SER INTEIRO

O que eu queria de você era você, mas você achou que era todo resto e por fim acabamos sem nós. 

POST-IT

Sobre o absurdo do seu discurso e da satisfação que vem de suas mãos: você deveria deixar pra lá toda retórica e brincar de cinema mudo. 

RELICÁRIO

Guardo tudo ali: na caixa que também é torácica, embrulhado em pericárdio, molhado em quase afogamento, que molda, anatomicamente, o que definimos como amor o que também é afeto e até aquilo que me contradiz com requintes de rancor.

GLOSSÁRIO

Felicidade é aquela nossa cantoria fora de tom desprovida de pudor e exposta pela lente de uma plateia em êxtase e sem palco. Amor é aquela nossa putaria que continua até quando deixa de ser só sacanagem, que praticamos em largo espectro, que amanhece no outro dia e que já é cumplicidade. Paciência é o tempo que levamos, entre trancos e barrancos, para chegarmos até aqui.

TROCO LIKES

Aceito gostar da forma como cruza as pernas e sorri com aquele olhar perdido enquanto fuma o cigarro das dezenove horas. Mesmo sabendo que um dia isso possa te matar e te levar de mim. Só porque é aquele mesmo sorriso que me observa, já sem impaciência, a falta de critérios quando insisto em fazer tudo ao mesmo tempo. Gosto quando se emociona e faz do olhar alguma maré alta, assim como sei que gosta quando o surpreendo com riso não contido e afeto explícito. E já que temos gostado tanto do outro saiba que troco o café forte e quente que tanto gosto pelo gosto arábico que vem de você. 

CARROSSEL

Ele é realismo fantástico. Ela é prosa poética. Ele é metonímia do teatro do absurdo. Ela é silepse da rima que não nunca foi dita. Ele é feixe de luz que percorre dureza e fantasia. Ela é variedade do mesmo tom que decora corpo inteiro. Eles são reflexos do outro em figura e linguagem, em parque e diversão, em doçura e incômoda tontura. Eles têm gostado mais deles juntos e talvez escolham demorar no outro em voltas inteiras, repetidas e compridas.