CASA PARA DOIS
As paredes lá de casa trazem vagas referências do verbo que nos é próprio. Também ousam nos predicados: contornos imprecisos e as cores de Kandinsky juntam-se aos [in]cômodos espalhados pela sala de estar. Às vezes tropeço neles e os troco de lugar. Às vezes os trocamos por outra coisa que nos faça rir. As paredes lá de casa também fingem apego: as fotografias em desordem semântica, sorriem em ângulos e vértices que não calculamos. Às vezes as pessoas nas paredes parecem reais. Outras vezes aparecem em declarações espontâneas de afeto. As paredes lá de casa são distraídas, e ainda assim nos percebem. As paredes lá de casa são discretas. As paredes lá de casa são para dois.