ZOMBARIA
Ele fazia pouco da vida. Era intenso. Berrava aos montes. Excedia nas expressões, nos gestos, nos absurdos. Brigava para ter razão. Deu porrada além dos murros em ponta de faca. Acusou todo mundo de insensatez. Vendeu a alma ao diabo. Hipotecou o coração. Cuspiu nos bons modos. Exerceu o poder que ele próprio lhe deu. Fez o que bem quis com a vida. A dele e a dos outros. Foi insuficiente e fez pouco. Tirou o sarro o quanto pode. Depois, culpou todo resto do mundo por não entender os seus motivos. Porque os motivos, para ele, justificam os fins e determinam os meios.