Sinta. Finja se não for possível sentir, mas finja ou sinta muito. Comece pelas beiradas, sem se preocupar com a rima. Ela não exige precisão. Ela não exige nem a própria presença. Deite a palavra caso ela resista prepotente, mas não exija dela tanta obediência. Se estiver com raiva, tudo bem. Faça dela sua melhor aversão ao que quer que seja e a atinja com a palavra em ponta de faca. Se for medo, esconda vocabulário nas mangas da blusa como se suas mãos estivessem com frio. Teste uma, duas, três vezes se for preciso. Uma hora ele será verso inteiro, significante e temido, talvez não mais por você, mas para quem te fizer oratória. O medo tem dessas coisas de fazer a gente gritar em silêncio a aflição do outro. Se for amor, tente não rejeitar o ridículo. Ele vai acontecer [você admitindo ou não]. E quando ele deixar de ser apenas derramamento e te desafiar, você saberá onde colocar cada palavra. Vai continuar sendo só seu, mas olhar o outro além do ângulo ao redor faz a gente reconhece