43th

As dores do corpo já incomodam tanto quanto as dores dos [meus] olhares, mas parece que se tudo der certo a gente vai viver muito, bem mais do que as tais das expectativas, geografia e linhas imaginárias que definem espaço e tempo. É bem verdade que há condições que nem sempre estão ao total alcance, mas todas elas dependem de participação, coragem e livramentos: Se o [des]governo se livrar dos colchetes e do fã clube. Se o coração ganhar sobrevidas a cada pequena morte. Se o alcance das breves belas emoções tiver a grandiosidade que merece e não se curve a qualquer liquidez megalomaníaca. Mas também é verdade que se prolonga a vida amando muito mais em perímetro diminuto, deixando pra lá o que não vale o [meu] tempo e berrando em denúncias oficiais [e protocolares] aquilo que a voz paciente não foi capaz de fazer entender. E nessa segunda temporada confinada por livre e espontânea consciência que é preciso estar para continuar, faço um feat platônico com o Jorge Drexler abusando num agudo dramático pedindo mais "uma noite de abrigo", me derramo no Chão de Poesias com Chico César e nos intervalos planejo um bailinho-petit-comité pra quem sobreviver depois do caos pra dançar aglomerado Manu Chao e Emicida, chorar bonito com graduação etílica pulsante no sangue uma moda de viola do tempo do vô e da vó alguma lembrança que nem é nossa de fato, e depois do final amanhecer sem ressaca moral, mas de "putaqueopariu, conseguimos", com alguma faixa alegre dançante cafona porque é preciso. Nem quero muito, mas esse pouco [me] é tudo. 

Que [minha] fé ecumênica e nem sempre divina abençoe meus delírios.

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