40th

O melhor de mim está nas páginas do De Analgésicos & Opioides que hoje, no meu réveillon pessoal, ganha sua versão impressa. A data é proposital, é de todo [auto]afeto e de um pouco de coragem. Porque os sentimentos são todos meus, mas os pronomes não. Porque os capítulos são de quem quiser, embora possam ser confundidos com alguma biografia não autorizada. Porque passei a vida toda lendo gente incrível e escrevendo "solo" entre colchetes. Mas a vida toda até aqui não é a vida toda de fato, então tenho aprendido a escrever junto, a declamar em alto e bom som o que parece verso livre, a fingir que a timidez não existe na hora de expor o que era só coisa do lado de dentro, e que depois de um jazz rasgado deve-se colocar um Alceu Valença para tocar na sala de estar, afinal, a vida - seja ela antes ou depois de entender as coisas - requer um dengo. 

E já que acabei de chegar numa versão de mim em que as pessoas parecem saber das coisas, procurei abrigo em quem já chegou e não sabe quase nada sobre fazer caber no peito algum adulto cheio de manias. Porque eu gosto de quem troca gerências de categorias ditas importantes pela beleza inquietante de fazer as coisas por amor e assumir as responsabilidades disso. É como ter de escolher entre Picasso e Modigliani – e para o desespero da maioria, a gente escolhe Modigliani.

E agora que também sou livro, digo: ainda que haja uma série de outras versões de mim, serei sempre emoção travestida de palavra, acolhida por algum pronome, pronta para ser declamada - num sussurro ou aos berros. 


[é verdade que os 40 são os novos 20?!]




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