LONG PLAYS

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Eu já quis ser Hector Babenco. Já brinquei de dublar cantoras cafonas para o meu pai dar a nota final. Eu dei uma volta à mais no quarteirão com os vidros da janela do carro baixados só porque a próxima faixa do cd era "Bette Davis Eyes" e canções como essa exigem vento na cara. Eu já quis ser a mocinha do filme. Eu chorei quando o Spit (personagem do Takeda) conta a morte da sua mãe. Eu já brinquei de bilboquê numa exposição do artista plástico Julio Villani e achei divertido e poético. Eu já liguei pra'quele garoto lindo só pra ouvir sua voz e desliguei (e que falta faz a ausência dos celulares e dos identificadores de chamada nessas horas!!!). Eu já tive uma pista de dança só pra mim ao som de "The Killing Moon". E já tive um dj só pra mim. O mais requisitado. O mais importante da noite. Eu já quis entender o Bentinho, do Machado de Assis. Eu já tive raiva da Macabéia, da Clarice. E adorei a Midori, do Murakami. Eu repito versos alheios como se fossem ditados populares. Me dispeço de você dizendo que estou indo de volta para Pasárgada (mesmo sabendo que não sou amiga do rei e que lá talvez não tenha nada do que eu realmente queira). Declamo "mundo mundo vasto mundo" quando não sei qual a melhor resposta. E quando estou prestes a te dar uma cartada no truco, grito em alto e bom som, como se Drummond pudesse me ouvir: "E agora, José?!". Eu já quis morar em Paris. Quis morar em Elizabetthown. E sei que já morei em alguns corações. Eu já perdi a linha. Eu vi Pearl Jam bem de perto. E vi várias vezes o Gram num quase show particular. Eu tenho pares de olhos verdes prediletos. Tenho bizarros prediletos. Eu tenho amores prediletos. Tenho sorrisos prediletos. E no repeat, toca a minha mais nova música predileta.

Long Plays. (*Banda Pública, de Porto Alegre)