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Mostrando postagens de abril, 2014

UMA CANÇÃO FRANCESA

As notas do acordeão começaram suaves e foram ficando mais altas como se pontuassem o meridiano cardíaco dela nos compassos da respiração dele. Eles eram como uma canção francesa distraída em paredes com pé direito alto e eco suficiente para o jogral de manifestos de intenções em tons mais altos repetidos pelos tons sussurrados do outro. Eles eram harmonicamente estrangeiros ainda que os pés insistissem em caminhar pelo chão de toda infância. Eles ventilavam cavidades com poesia sofisticada. Eles cabiam em todas as oitavas da mesma tecla, em fole.

ALMIR SATER [23.03.2014 - SÃO CAETANO DO SUL]

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[Almir Sater - Teatro Paulo Machado de Carvalho - 23.03.2014] Lindeza é a maestria do Almir Sater com uma viola nas mãos. Ele faz com que busquemos na lembrança a lembrança que não é nossa. A lembrança que é de vó, de vô e que de alguma forma, tomamos como nossa história também. Ele me fez lembrar das férias na fazenda na casa da minha bisavó. Do amor adolescente [e inconsequente] com gosto de vinho de quem ainda só tomava refrigerante. Da amizade [e cumplicidade] entre a menina paulista com a menina sul-mato-grossense. Do cheiro de mato e dos primeiros raios da manhã não porque ainda não tinha dormido, mas porque acordar cedo era prazeroso. Do muro [que trazia nossos breves encontros] que foi demolido depois que o menino que abusava da morenice e dos olhos esverdeados deixou de existir... Lindeza sentir tanta coisa [ainda que dê um nó na garganta] pelas notas gentis de Almir Sater.