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Mostrando postagens de março, 2013

TRAMELA

Ela, de fios curtos e brancos, já sentia o cansaço de ter pulado tantas janelas. O cansaço de ter guardado todos os segredos que não eram dela. O cansaço do discurso firme do silêncio. Um silêncio de quem já tinha ido embora. Um silêncio de quem cala, mas não consente. O cansaço de quem muito sente e nem percebe que o peso que saltou dos seus ombros já não existe mais.

AXIOMA DA SEPARAÇÃO

E o mundo caiu dos seus ombros fazendo do peso-exagero uma leveza que não sabia lidar. Uma leveza ingênua e mal acabada que insistia num só vazio. Era como sair de casa com medo de ser encontrado. Era como preencher o que parecia já ter transbordado. Era como não mais pertencer ao que já estava acostumado: com tanto tudo de nada.

É SÓ IMPRESSÃO

Não é que a coisa toda acaba. É que tem hora que não faz mais sentido. Tem hora que ocupa mais espaço do que deveria. Não é que a gente muda de ideia. A ideia continua a mesma, mas ela não mais se encaixa. Não é que eu não sinto. Eu sinto e sinto tanto que transborda. Mas daí a gente cresce e percebe que entre o que se sente e o que é possível verbalizar depende da disponibilidade do outro em querer ouvir, prestar a atenção, entender como verdade, colocar como possibilidade e quem sabe, permitir chegar perto, perto o suficiente para fazer parte de alguma realidade. E é tanta condição, que cansa. Nenhum amor é perecível, mas o tempo é. E é por isso que dá a impressão de que a coisa toda acaba, sem mais e com tanto menos.

DAQUI NÃO DÁ PARA SABER O QUE TEM ADIANTE

Já tive mais vontade. De você. De ficar observando a forma como abotoa a camisa em [des]ordem randômica. Já tive mais paciência. Em explicar que meu jeito de dançar não é provocação, ainda que para você tenha sido de todo propósito. Em listar as contas que irão vencer no final do mês. Em dizer que teu silêncio acompanha uma ruga de preocupação no lado esquerdo da testa, e que você pode dividir os problemas comigo para que tenhamos apenas meia ruga cada um. Já tive mais decência. E por um tempo quis ter você em mim porque era bom e não porque precisava saber se ainda existia alguma coisa além dos cômodos em comum. Já estive em tanto lugar com você, que não sei dizer se o que incomoda é o vazio ou não ter lugar além de você. Tudo é tão confuso que não sei se fico ou vou embora. Não sei que tipo de dor eu devo escolher.